"Diferentes grupos de pessoas contribuem para a construção da sociedade de diferentes maneiras. Essa diversidade carrega um significado especial para a estrutura social como um todo. Se a diversidade não houvesse existido, a sociedade humana não teria avançado nem mesmo até a Idade da Pedra, que se dirá do presente estágio de civilização.

Portanto devemos considerar e apoiar imparcialmente todas as diversas idéias, formas e cores que conduzem ao fomento do crescimento pessoal e desenvolvimento social entre os seres humanos. Se falharmos nisso, aquela parte da sociedade que foi construída em torno de uma idéia, forma ou cor particular irá definhar e morrer.

Eu dirijo isso não apenas àqueles que pensam profundamente sobre o bem-estar social, mas a todos os membros da sociedade, para incutir neles que ninguém, através de seus pensamentos, palavras ou acções, jamais deverá tolerar a injustiça."
P. R. Sarkar

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

PORTUGAL SEQUESTRADO ?

As opções políticas dos últimos 20 anos e a conjuntura económica mundial levaram Portugal e outros países periféricos (o famoso clubeMED, ou PIIGS como são vulgarmente designados) ao colapso financeiro e a uma situação de dependência sem fim à vista em relação às grandes potências mundiais e da Europa. 


Durante as últimas décadas, entrou em Portugal muito dinheiro vindo da Comunidade Europeia e o país, aparentemente, foi-se desenvolvendo até deixar de se assemelhar com a Roménia (por exemplo) para se parecer com os países de elite do velho continente. Abriram-se auto-estradas, limparam-se a ruas de animais, lixo, crianças descalças e outras situações menos agradáveis à vista, entraram as grandes marcas, apareceram os centros comerciais e as grandes lojas e, juntamente com outras mudanças, Portugal foi colocado na lista de países desenvolvidos. 


Com o Euro, os preços subiram e ir a um supermercado em Lisboa ou em Helsínquia representa actualmente o mesmo em termos de custo; as rendas, a gasolina, o material escolar também se começaram a equiparar e hoje alguns destes bens são mesmo mais caros em Portugal do que noutros países mais ricos. Estava tudo bem se não houvesse uma grande diferença entre o que ganham os portugueses e o que ganham os outros europeus, é que os nossos ordenados nunca se aproximaram sequer aos dos outros países da União. O nosso ordenado mínimo é ridicularizado por qualquer outro povo que se encontre na UE há mais de 20 anos e o facto de que os ordenados são baixos em Portugal é sobejamente conhecido por todos os povos e líderes europeus.


 Assim, todo o dinheiro investido em Portugal,modernizou o país, mas a situação económica dos portugueses agravou-se em vez de melhorar. Há qualquer coisa incongruente neste facto, se o país se desenvolveu, como é que o nível de vida dos portugueses não acompanhou esta evolução positiva? Sim, porque apesar de aparentemente vivermos melhor, não nos podemos esquecer que são os bancos os verdadeiros donos da maioria dos bens móveis e imóveis que os portugueses utilizam. 


Como resposta a esta questão vêm os argumentos da má gestão, das más politicas e da corrupção. Mas onde estava a fiscalização aos desvios dos fundos atribuídos a Portugal? Um país que crescia com disformidades não precisava de auditorias às suas finanças e investimentos antes que se entregassem mais fundos? E o surgimento de grandes fortunas e super políticos milionários não foi copiado e incentivado pelo modelo de políticos "carreiristas" que representam os países e a própria Europa? 


O que parece obvio é que esta situação era previsível, e começa também a ser claro que é até desejável e vantajosa para alguns. O problema é que o interesse dos governantes, e dos grandes interesses económicos  , está actualmente em colisão com os interesses dos eleitores e do povo. Para sobreviver nos mercados, a União Europeia tem que competir com os países emergentes em que a mão de obra é barata e os trabalhadores não têm quaisquer direitos.


 Dá jeito à Súper Potência Europa ser constituída por zonas ou países dependentes e mais pobres para poder ser mais competitiva. Assim, as grandes empresas ameaçam os trabalhadores comunicando-lhes  que se não fizerem sacrifícios, as mesmas são deslocadas para países como a Turquia ou a Republica Checa e com estas ameaças conseguem manipular os trabalhadores e fazer com que deixem de reivindicar aumentos, horas extraordinárias, e todos os outros direitos que estão efetivamente consagrados na nossa constituição. Não está longe o dia em que serão os próprios trabalhadores a abdicar dos seus direitos e a ceder à exploração por parte das multinacionais colonizadoras.


 Os portugueses estão a ser lentamente empobrecidos com preços absurdos, com impostos exagerados, com o desemprego crescente para que aos poucos se vão habituando novamente à pobreza, à dependência, ao conformismo, a subserviência, etc. A crise e o colapso financeiro de alguns países é da conveniência das grandes potências da União Europeia ou, caso assim não fosse, perante as dificuldades de uma nação, uma das suas partes, faria sentido uma ajuda solidária das outras nações e não o aproveitamento da situação como está realmente a acontecer. 


Vejamos o caso da Grécia, que nos precede, em que vemos a Alemanha e a sua "digna" representante, a empurraro país berço das civilizações para a falência e ao mesmo tempo a aguçar os dentes com a sua primeira conquista. Portugal pode ver na Grécia o seu futuro, e apesar de nos passarem constantemente que nos prejudica uma aliança com os gregos, o certo é que temos vindo sempre a seguir os mesmos passos


Quando o FMI entrou na Grécia, disseram que em Portugal seria diferente, mas não foi. A razão por que nos vão dando as notícias aos poucos tem como objectivo dividir os povos e preparar-nos psicologicamente para as mudanças que nos querem impor, evitando desta forma que o povo português assuma com independência soberana os rumos  económico- sociais para o país, conducentes ao seu desenvolvimento sustentável .


 Pelos vistos estão a conseguir. Assim como nós nos queremos distanciar dos gregos, também os espanhóis se querem distanciar de nós e assim sucessivamente por toda a Europa pacífica e periférica. O endividamento, que vai atrofiar a economia e o desenvolvimento da nossa nação por muitas décadas, que vai condenar as gerações futuras ao pagamento de uma dívida que não fizeram, será favorável a alguns países e as futuras gerações do norte da Europa, irão enriquecer os seus cofres com os juros que nós e outros países teremos que lhes pagar. 


A próxima geração será financeiramente dependente e terá que se sujeitar a condições de vida de 4º mundo para pagar a tal dívida que não fez, numa Europa novamente dividida entre os ricos e os pobres. 


A Troika impôs uma limpeza radical dos desperdícios da despesa pública no Estado, a qual por implicar com o clientelismo dos partidos políticos (boys e baronetes) tarda a ser efectuada, pelo Governo, o qual tem erradamente, privilegiado os impostos sobre os trabalhadores , sobre os reformados e sobre o consumo, agravando a crise económica e o desemprego.


Por outro lado o Governo até agora tem-se limitado a subir os preços dos serviços públicos (saúde, educação) a pagar pelos cidadãos, apesar de estes já terem um parco rendimento disponível pós-impostos.  


Quanto ao mais, o actual governo de Portugal está  neste momento submetido à Troika a qual efectivamente  decide quanto recebemos, quanto pagamos, o que privatizamos e, se os portugueses não acordarem a tempo, decidirão também o nosso futuro a curto, médio e longo prazo, independentemente de qual seja o nosso querer! 
 
(Trabalho elaborado por Natacha Romão, e concluído no respectivo Grupo de Trabalho PAN -Justiça Social em 16/09/2011)