«Era um país de piegas. Todo inteiro. Ou quase todo. Os velhos viviam na tremenda pieguice de sobrevivência com pensões descaradamente piegas.
Os jovens, muitos dos quais depois de anos e anos de estudo, eram uns pieguinhas. Sai do secundário, entra na faculdade, sai da faculdade, olha o desemprego, espera, tiveste sorte, olha aqui uma bolsita, lá se acabou a bolsa.
Terás casa um dia, por enquanto deixa-te de pieguices que não é vergonha nenhuma viver de mesada na casa dos pais aos trinta e tal anos! Os menos jovens caíram nessa pieguice de correr para os centros de emprego. Nada, você é velho de mais. Aos 50? Claro. Espere! O subsídio já terminou, e agora? Pieguices… Outros trabalham que nem uns mouros ou que nem uns cães. Ou como outra pieguice qualquer.
E o dinheiro não dá. Conta da água, da luz, do gás, dos transportes, da comidinha para o tacho, uma roupita de vez em vez. Pieguices! Pieguices, pieguices! E há os que vão ficando sem casa. Despejado! Piegas! E os que choram às escondidas enraivecidos por já não conseguirem pagar os estudos da filha que foi para Coimbra tentar ser doutora e agora está de volta a casa. O que vai ser dela? Não dizíamos? Piegas!
E há aquela senhora, toda bem posta, a descaradona, que na bicha da caixa do supermercado ao olhar para a conta, confessou baixinho: “afinal não levo a carne nem o azeite. Ainda tenho… Ai esta minha cabeça!” Uma piegas e mais a mais dissimulada! E a outra a quem cortaram a luz, bem feito não pagou, queria o quê?, vivia acima das possibilidades! E ainda se arma em piegas.
Um país de marinheiros e de poetas, foi acima que nos ensinaram! Mentira! Tudo mentira! Mas também agora não adianta chorar por isso ou ter outras manifestações de pieguice. Um país de piegas, isso sim. Decretou assim o senhor e assim é e tem de ser. Também decretou que não há carnaval. Era uma pieguice pegada, os pobres a fazerem de ricos e além do mais uma pouca-vergonha, com trocas de papéis, de sexo e tudo.
Portugal, este país de piegas, onde todos têm língua comprida que sem pieguice ainda hão de morder – é esta a nossa amada pátria aos olhos de um fulano que um dia por sorte ou azar do destino – pieguices da história – se tornou no primeiro capataz de serviço daqueles senhores que nos tramam e nos governam e que não conhecemos a não ser por uma alcunha – troika.
Aos senhores da troika só mesmo uns pieguinhas do caraças estão interessados em chatear. E vai-se a ver e os pieguinhas vão encher no próximo sábado até abarrotar de lamúrias aquele terreiro da capital que garantem não ser do Passos mas do Povo.
Um país de piegas?! Não há pachorra!»
( Francisco Queirós )
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